Episode Transcript
[00:00:06] Tamlyn Shimizu: Bem-vindos ao Smart in the City, o podcast do BABLE onde trazemos os melhores atores da arena da cidade inteligente, espalhando diálogos e interações em torno dos ativistas e temas mais prevalentes para os cidadãos de hoje e as gerações de amanhã. Eu sou sua apoiadora, Tamlyn Shimizu, e espero que você goste deste episódio e ganhe conhecimento e conexões para acelerar o mudando para uma vida mais urbana.
Smart in the City é trazido para vocês pela BABLE Smart Cities. Nós possibilitamos processos de pesquisa e desenvolvimento estratégico para cocriação e implementação. Para saber mais sobre nós, por favor visite a plataforma BABLE na BABLE-smartcities.eu.
Bem-vindos de volta a outro episódio de Smart in the City. Este é um episódio especial que será feito em português pelo meu colega Gretel Schaj, que trabalha como a liderança do BABLE Iberia no BABLE Smart Cities. Queremos alcançar pessoas de todas as regiões, então não se surpreendam quando você ver diferentes línguas aparecendo. Sem mais delongas, eu envio o microfone para Gretel.
[00:01:09] Gretel Schaj: Olá, sou Gretel Schaj e lidero a equipa do Setor Público em Espanha e Portugal para a BABLE. Hoje tenho o prazer de gravar este episódio em português e em direto do Smart City Expo World Congress, onde a BABLE é um parceiro, colaborador e media partner, trazendo-vos entrevistas emocionantes em várias línguas no terreno.
Obrigada, Fira Barcelona, pela fantástica colaboração mais uma vez.
Hoje, centramos-nos na região Oeste de Portugal, onde a inovação se alia à sustentabilidade. Estamos a explorar o que é necessário para transformar uma região numa comunidade conectada e preparada para o futuro. É com grande entusiasmo que dou-vos as bindas ao Paulo Simões, primeiro secretário da CIM do Oeste, que se junta a nós para partilhar a visão ambiciosa da Oeste da CIM.
Paulo, gosto de começar com uma pergunta de aquecimento e de nos dar a conhecer melhor a vossa região.
Assim, a nossa pergunta de hoje é, se a região oeste fosse um animal, que animal seria?
[00:02:22] Paulo Simões: Olá, boa tarde. Primeiro, é o Eduardo um gosto e um prazer estar aqui com o Vosco e contigo a partilhar também aquilo que é a visão do Oeste para o futuro. O animal é interessante, mas é uma pergunta tão... Eu não posso ter deixado de olhar para o meu leque de animais que me vem hoje à cabeça e pensar que nós somos um leão. Somos um leão.
que conseguimos, de alguma forma, perceber quais são os nossos pontos fortes, o que é que nós temos que efetivamente conseguir fazer para melhorar a vida das pessoas. E o leão é alguém que está sempre pronto para agarrar os desafios.
Eu penso que podia escolher outro animal, mas escolhi o leão, talvez porque também, na minha perspectiva, o território também tem que se apresentar cada vez mais com essa capacidade.
de se adaptar, de responder, de proativamente conseguir também acompanhar esta transição digital e a transição verde que estamos a viver, que é uma revolução internacional extremamente densa.
Ainda com um tema que é atual, que é com a vitória, com a pseudovitória nos Estados Unidos, hoje do futuro candidato presidencial Trump, o que alguns temas da agenda americana deixam de ser prioridade e parece-me a mim que a Europa, nomeadamente em particular a Europa, e onde Portugal faz parte integrante de uma forma muito responsável com o membro da União Europeia, vai ter enormes desafios.
E quando falamos nisto, falamos da sustentabilidade, falamos daquilo que são o foco nas pessoas, e cada vez mais vamos tentar perceber como é que este leão, o nosso pequeno leão no Oeste, vai responder a isto.
[00:04:11] Gretel Schaj: Começamos com tudo, mas eu acho que é uma boa resposta.
Mas, se calhar, também gostaria de saber mais sobre ti enquanto pessoa.
Qual é a tua formação e o que é que te levou a desempenhar este papel e o que é que te motiva?
[00:04:28] Paulo Simões: Muito obrigado.
Eu mais uma vez, reforçando-me o privilégio e o prazer de estar aqui a conversar de uma forma tão descontraída e tão bem, me sinto mesmo...
Eu sou formado na área da gestão, sou investigador de políticas públicas e doutorado em administração pública e políticas públicas.
Tenho formação especializada em liderança, em alta direcção de administração pública. O meu foco sempre foi muito o Estado, as políticas públicas, desde minuto.
Trabalhei sempre noutros níveis de administração, ou seja, trabalhei na administração central, no Ministério das Nações Unidas, Ministério da Economia, com a Comissão Europeia, e nunca tinha tido o desafio de poder trabalhar num governo local ou num governo regional, mais perto das pessoas, dos territórios.
E há sete anos tive o privilégio de ser convidado para poder desempenhar essas funções enquanto estou de um território, neste caso da região Oeste. E a abordagem foi. Eu estive sempre nos outros níveis de políticas públicas, onde desenhamos políticas, pensamos naquilo que será a estratégia, mas nunca estive na implementação, a ver no território aquilo que acontece efetivamente às pessoas, a melhorar a vida das pessoas, das empresas.
E aceitei.
E posso dizer hoje que foram os melhores sete anos da minha vida enquanto estou público.
Primeiro porque tenho uma equipa maravilhosa, que trabalha comigo todos os dias.
[00:05:52] Gretel Schaj: Que é muito importante.
[00:05:53] Paulo Simões: Muito, é fundamental. Consegui construir essa equipa e trazer essas pessoas comigo e recrutar essas pessoas que fazem parte da minha equipa e por isso sinto-me uma pessoa privilegiada, um gestor privilegiado, porque trabalho com quem eu gosto.
muito capazes, muito responsáveis, muito jovens também, com uma formação muito profunda naquilo que são os desafios hoje e com nível de profissionalismo. Esta nova geração é fantástica, muito melhor que a minha, já tenho 50 anos, e esse desafio leva-me hoje a ser um homem muito mais realizado.
enquanto pessoa, não só enquanto gestor, mas enquanto pessoa, porque estou a ver no terreno tudo aquilo que nós pensamos concretizar nas políticas públicas, consigo ver no território, consigo ver nas famílias, consigo ver nas empresas, consigo ver na vida das pessoas.
E isso, não há melhor privilégio do que nós chegarmos a casa, depois de um dia de trabalho, ou depois de uma semana de trabalho, ou de um mês de trabalho, ou de um ano de trabalho, fazermos o processo da accountability, de prestação de contas connosco próprios, não é? Não é só com a parte de gestão pública, mas connosco. Não, eu consegui mudar a vida de alguma coisa, consegui melhorar. É para isso que eu existo. E por isso, este desafio foi o melhor desafio que eu tive.
na minha vida enquanto estou público, foi ter o privilégio de superar as minhas expectativas. Pensei que eventualmente não tivesse essa capacidade de ver tão real, de forma tão real e tão natural aquilo que estávamos a fazer, mas tem sido um gosto e um privilégio.
[00:07:23] Gretel Schaj: Muito interessante também a tua experiência.
Podes falar-nos mais sobre a Oeste Sim? Quais são alguns dos grandes objetivos que orientam nas vossas iniciativas?
[00:07:35] Paulo Simões: Muito bem.
A Oeste-Cima é uma estrutura da administração pública, é uma autoridade pública subregional, ou seja, do ponto de vista territorial é mais do que uma câmara municipal, é uma região.
Ela integra 12 municípios, ou seja, é muito perto de Lisboa, temos uma costa...
Nós, de uma forma muito resumida, temos 5 grandes áreas onde nos diferenciamos daquilo que é o nosso quadro competitivo. O primeiro é sempre as pessoas.
As pessoas é o nosso maior foco, não é? Mas a nível daquilo que é o nosso setor económico, nós temos o turismo através do surf, e que nós temos 90 quilómetros de costa, e esses 90 quilómetros de costa é conhecido do ponto de vista mundial. Nós fazemos anualmente duas das maiores provas da WSL, do cabineto do mundo de surf. Temos a onda gigante Nazaré e temos o super tubos de Peniche, que faz parte da WSL, e por isso somos, e temos também Santa Cruz, que é para os Júniors, ou seja, que é para os mais miúdos.
O que é que nos acontece é que nós temos um ecossistema de surf único e por isso um dos nossos focos é naturalmente continuar a otimizar esta cadeia de valor. Mas o surf, além do valor económico e projeção territorial e de marca de território que traz hoje, porque traz muitos, há dias apresentámos um estudo sobre o impacto do surf e estávamos a falar em centenas de milhares de euros, ou seja, estamos a falar em muitos milhões de euros.
Diretos e indiretos muito mais.
Porque nós trazemos à peniche todos os campeões do mundo. Estamos uma semana cá. As pessoas não têm noção daquilo que hoje a região Oeste é vista em todo o mundo por este peniche, que cada vez é maior, do surf e do skate. Onde nós apostamos de uma forma muito concreta.
Depois, e há ondas gigantes na Zareca. Não há nenhuma no mundo igual a essa, e por isso.
Não é possível.
Todo o lado, desde a América do Sul, a Argentina...
[00:09:35] Gretel Schaj: É a referência.
[00:09:36] Paulo Simões: É a referência. E a Nazaré é um dos corações do Oeste.
Temos depois o setor agroalimentar, não tanto como atua a Argentina, mas conseguimos ter uma maçã e uma pera que não existem em nenhum lado do mundo devido ao nosso quadro climático.
muito perto do mar, tem ali a questão do oceano atlântico, e depois temos uma zona montanhosa, e faz ali uma barreira, então cria ali um ecossistema quase único para a pira e para a maçã, com um sabor especial, e um sabor específico, que é a maçã de Alcobaça e a pira roxa.
Por isso o setor agroalimentar muito forte, nestas duas vertentes, nestes dois produtos, o turismo por um lado também muito forte, E depois temos também ali a parte cultural e a parte de alguma indústria criativa, porque temos Óbidos, Óbidos e Caldas da Rainha, que são cidades criativas da Unesco.
E esse ativo diferenciador está-nos a colocar também a atrair mais recursos humanos altamente qualificados de todo o lado do mundo para criarmos aqui um hub, quase que um ecossistema e um hub novo para a indústria da criatividade. E queremos cada vez mais atrair pessoas para viverem no Oeste, para visitarem o Oeste, mas para viverem lá, porque nós temos e queremos muito que as pessoas se sintam bem no Oeste e que seja um território inteligente, sustentável e onde o foco são as pessoas. Esse aqui é outro das dimensões, outro dos fatores diferenciadores, do ponto de vista económico. E temos uma parte que agora, felizmente, foi agora, muito recentemente, que é o Geoparque do Oeste pela própria Unesco, que foi agora galardoada, ou seja, reconhecido como Geoparque Mundial.
E por isso, temos um território único, um património dos dinossauros, como é do conhecimento geral, em Portugal a capital dos Neosauras é o Oeste, que é a Lourinha.
Com o Geoparque referenciado pela Unesco como uma história, do ponto de vista científico, fundamentada, devidamente fundamentada, e por isso este quadro da atratividade do território torna-se extremamente rico e diferenciador. Com uma vantagem, que os outros territórios não têm.
Estamos a 30 minutos de Lisboa.
E quem vai a Lisboa, a terra em Lisboa, 35 minutos depois está no Oeste.
Isto é uma vantagem competitiva que ninguém tem.
Porque combinamos o urbano e o rural, o mar, a sustentabilidade, e as pessoas, e a felicidade, e o skate, e o surf, ao lado de Lisboa. É a tempestade perfeita.
O que nós fazemos na CIM, do ponto de vista da gestão, enquanto cada presidente de Câmara está a pensar no seu território, eu na CIM, como estrutura de governo subregional, que tem os 12, Eu olho para o território, não sou todo.
E percebo que o todo é muito maior que a soma das partes. E é o que eu falo com eles. Porque nós, na CIM, recebemos todas as quintas-feiras, temos reunião política.
E todas as quintas-feiras nós decidimos políticas públicas ou desenhamos programas para o todo.
Percebendo que o todo sendo maior que a soma das partes, é óbvio que há sinergias que nós ganhamos, da eficiência do ponto de vista do IPP, mas também da eficácia dos resultados. Todos ganham. Não é só o Lournean que ganha com os dinossauros, porque o Bom Barral está ao lado e pode ter um hotel ou dois hotéis e pode ganhar sinergias com aquilo.
como também o surf, não é? As pessoas não vão só para o surf, as pessoas vão ao surf, mas depois vão passear os dinossauros ou vão ao mosteiro da Alcobaça comer uns doces conventuais maravilhosos que só existem em Alcobaça, não é?
E isto faz de nós muito perto de Lisboa, 30 minutos de Lisboa.
E o que é que nós queremos hoje? Nós queremos ser um território diferenciador para as pessoas poderem viver no território, não só visitarem o território, investirem no território, economia verde, economia limpa.
E esse é o nosso foco. O foco são sempre as pessoas. Ninguém pode ficar para trás.
Sabemos que há um momento chave hoje. Estamos a viver um momento chave da revolução industrial. Desta nova revolução industrial. É muito rápida.
Inteligência Artificial, IoT, tudo está a nascer. Estamos aqui nas smart cities, tudo está a nascer. Mas a verdade é que precisamos capacitar as pessoas. Não há transição digital sem capacitação das pessoas.
Estamos a fazer transição digital para quem?
É para um élite que salta aqui na feira de Barcelona?
Ou é para as pessoas? Isto tem que chegar às pessoas, tem que melhorar a vida das pessoas.
Porque nada disto faz sentido.
E este foco, por isso é que a abordagem daquilo que é também a inteligência e a abordagem tecnológica não pode ser o fim, tem que ser o meio. E a dimensão é multidisciplinar da coisa, da temática. Por isso é que a política pública é muito mais rica do que apenas um vertical que vamos estudar a tecnologia e a inteligência artificial que faz não sei o quê e que manda aqui umas mensagens Isso é incontornável.
Somos todos fãs de pôr a IA a criar valor público, pôr a tecnologia a criar valor público. Mas na prática, como é que nós capacitamos os destinatários desta política pública, desta nova transição digital, de melhorar a energia das pessoas e das empresas?
[00:14:37] Gretel Schaj: Claro.
[00:14:38] Paulo Simões: E este é o desafio. E não o vejo aqui na feira.
Eu vejo um conjunto, isso não é nenhuma crítica, pois não serve fazer melhor, mas o que eu vejo é um conjunto de pavilhões, incluindo o meu, porque costumamos falar de tecnologia. Então estamos a vender tecnologia, estamos a falar de tecnologia, mas não estamos a falar de pessoas.
E a estratégia do Oeste da CIM passa muito por isso. O foco nas pessoas, a questão da transição digital, obviamente, de sermos um território inteligente, esse é o foco, de sermos um território inteligente, sustentável e inclusivo. E agora uma abordagem mais da sustentabilidade social e cultural, mas muito importante a questão do net zero. Ou seja, hoje estamos a passar para o território do ponto de vista de termos uma região inteligente e sustentável à abordagem do ESG, da matriz ESG para as empresas de desempenho ambiental e estamos a passá-la também para aquilo que é o território, temos o território ESG.
Ou seja, o território ESC tem a dimensão da sustentabilidade como a parte social, a parte económica e a parte ambiental e a parte da governança. E por isso, porque sabemos que só com boa governança, só com boa governança perto das pessoas, nós vamos conseguir chamar as pessoas para as políticas públicas e as pessoas perceberem o valor que as políticas públicas têm.
Porque esse é um tema que é a democracia.
que é a questão de como é que nós tornamos isto um processo de governança participativa e chamamos as pessoas a participar também nesta transição.
Não é só capacita-las, mas fazer com que elas também façam parte daquilo que é o desenho das políticas.
Por isso, este é o trabalho que fazemos um bocadinho na região Oeste, no seu todo, e os autarcas naturalmente são muito importantes no processo, em todo este processo, em toda esta cadeia de evolução. Elas complementam a política pública, acime, na prática e em forma muito clara, com a sua estrutura tecnicamente qualificada, o que faz é desenha as políticas, redescreve um pouco essas políticas e depois os municípios implementam as políticas públicas.
[00:16:40] Gretel Schaj: Falavas também do rol das diferentes organizações, das pessoas, mas agora também os dados são essenciais também para uma governação eficaz.
Como é que assim oeste está a utilizar os dados para tomar decisões informadas e quais são alguns exemplos de maneiras baseadas em dados?
[00:17:08] Paulo Simões: Muito bem. A tua pergunta é hoje um dos temas que nós hoje temos mais, ou uma das áreas que nós temos mais abordado hoje.
É como é que o data-driven, ou seja, o data-driven public policy, as políticas públicas orientadas por dados, conseguem ser ou não interiorizadas do ponto de vista do que é o modelo de decisão política.
E esse é uma abordagem, ou é um tema que nós nos temos debruçado nos últimos quatro anos.
Nós temos conseguido recolher, nós temos uma plataforma analítica que recolhe informação e recolhe dados, já temos cerca de 11 verticais, temos dados de top-down e dados de bottom-up. Os dados, de uma forma, para não ser muito massudo, explicar aqui tecnicamente, os dados de top-down são aqueles que nós recolhemos dados em fontes de informação externas e os de bottom-up são aqueles que nós recolhemos através de IoT de sensorialização do território.
Nós hoje já temos um conjunto de informação, e vou dar aqui alguns exemplos só para clarificar para quem nos depois estiver a ouvir, que são interessantes. Nós temos alguma informação, por exemplo, das transações financeiras.
Sabemos através dos dados que recolhemos da CIBS, que é quem faz toda a gestão financeira das transações em Portugal.
Nós recolhemos essa informação e depois com a capacidade analítica, estamos a falar descritiva também nesta fase, mas já temos uma dimensão mais predictiva até para vermos o comportamento do desempenho económico em algumas áreas para suportar a nossa decisão. Nós conseguimos saber tudo, por exemplo, o que se passa a nível de movimentos financeiros num campeonato do mundo, num evento qualquer ou mesmo na região oeste.
O que nós escolhemos hoje, outro exemplo que utilizamos com estes dados, são os dados da mobilidade.
Conseguimos saber quantas pessoas estão a chegar, quantas pessoas não estão a chegar, quantas pessoas lá tiveram no campeonato do mundo. Conseguimos saber toda esta informação e depois responder questões de portos públicos, também monitorizamos questões de portos públicos, ser resposta àquela densidade de massa de pessoas, se existe só oferta é suficiente ou não é suficiente para prestar esse serviço público às pessoas.
E com base nesses dados, a CIM toma decisões. Ou seja, nós com base nessa informação, sabendo o número de pessoas que existem, sabendo, por exemplo, a quantidade, os eventos que vão existir, há uma oferta de transportes públicos que é normal, está adequada, mas naqueles momentos nós sabemos que cá vai existir mais pessoas, porque temos uma abordagem de analítica predictiva e conseguimos prever, face aos anos anteriores, estimamos que vai haver um aumento de 40% ou 60% das pessoas, então colocamos a oferta no terreno de transportes públicos.
de forma a que as pessoas possam ser servidas da melhor maneira possível. E por isso, isso são políticas públicas orientadas por dados.
Ou seja, nós não reagimos para ou agimos em relação à decisão.
Outros exemplos que nós temos.
Temos, por exemplo, a questão da bilhética do serviço público de transporte de passageiros.
Nós hoje sabemos, com o envelhecimento da população, por isso é que é as políticas públicas orientadas para as pessoas. Nós sabemos hoje, com o envelhecimento da população, que há pessoas que não conseguem ir a apanhar o autocarro.
Eu não sei como é que se diz na Argentina, é autocarro. Não, não.
[00:20:08] Gretel Schaj: Temos, temos.
[00:20:09] Paulo Simões: Mas é autocarro que se diz.
Eles não conseguem apanhar o autocarro. A mobilidade deles é muito difícil. A Europa está, claramente, felizmente, exparencialmente, individualmente, e a Europa está a passar, e Portugal inclusive, um envelhecimento da população substantivo.
E como é que nós desenhamos políticas de mobilidade para as pessoas? Não pode ser para apanhar um autocarro a seis quilómetros. A pessoa não consegue andar, coitadinha.
Então, o que nós temos como base nos dados são abordagens quase de um modelo de uberização do transporte público. Ou seja, a pessoa precisa, através de uma plataforma, por isso é que ela tem que ser capacitada, precisa amanhã, às 16 horas, ir ao médico. Então ela vai e tem que clicar cá às 16 horas e acima. Como autoridade de transporte tem que arranjar a solução para ir buscar aquela pessoa às 16 horas para ir ao médico.
Obviamente não vai só buscar aquela pessoa.
Se, eventualmente, cruza de uma forma inteligente com outras necessidades, em vez de ter um autocarro de cinquenta lugares, vai à porta da pessoa e vai buscar as pessoas à porta de cada uma das casas.
Parece-se um serviço de público qualidade.
Esta é a diferença que os dados nos dão.
Os dados são um meio para nós termos human centric public policies. Para as pessoas compreenderem. O que é que é necessário? Duas coisas. Uma, capacitar as pessoas.
Sem essa capacitação as pessoas não vão estar integradas e vão ficar de fora. E nós não podemos deixar ninguém para trás.
Quando nós temos um investimento da população substantivo, a literacia digital das pessoas, é reduzida.
Por isso, é um tema que nós temos que pensar. E a outra abordagem é, ou será, a capacitação das decisões políticas.
Do policy making process.
Porque, na verdade, no modelo de decisão, há três modelos de decisão em políticas públicas, que é o incremental, o caixa atualista e o racional. E o racional tem que ser como fazem dados. Mas a verdade é que, mesmo existindo dados, há muita incapacidade de ler o que é que os dados querem dizer.
E por isso, aquilo que nós estamos hoje a sentir com muitos dados, muitos dados, é como é que nós capacitamos e temos uma abordagem de qualidade em relação à informação que recolhemos e podemos fazer recomendações de política. E isso obriga que as nossas equipas técnicas que ajudam nos decisões políticos sejam qualificadas naquelas áreas.
E não são só cientistas de dados que fazem muita falta para a analítica, mas não podem ser só cientistas de dados.
Ou seja, porque alguém está a ler os dados, os dados querem dizer milhões de coisas, e por isso tem que ser especialista em mobilidade, tem que ser especialista em saúde, em educação, e tem que saber ler os dados para poder ajudar e recomendar a política. O que é que nós estamos a fazer assim? Com base nesses mesmos dados, vamos pôr uma camada de água agora por cima, utilizar adição.
E a ideia é, a própria IA, com aquilo que vai aprendendo em ambiente controlado, que nós chamamos a caixinha negra, vai ajudar o decisor e vai fazer recomendações, porque vai aprendendo com aquela informação.
E o que nós pretendemos não é substituir as pessoas, as pessoas estão lá, os técnicos altamente qualificados têm que lá estar, mas a máquina vai nos ajudar já a ter uma abordagem também, e à generativa, a recomendar políticas, ou pelo menos a dar um conjunto de recomendações, que podem ou não ser usadas, mas a automatizar o processo de inteligência naquele que é o ciclo das políticas públicas. É isso que estamos a tentar fazer, que é, na verdade, aproveitar esta revolução industrial nova, esta quarta revolução industrial, e colocá-la ao serviço das pessoas.
E isso é o foco. E as pessoas aqui são o fim, Há vários atores na cadeia que têm de ser qualificados.
E esse é o nosso foco nesse filme.
Enquanto estou público e as minhas equipas, esse é o nosso objetivo.
[00:23:47] Gretel Schaj: E como colaboram com as câmaras? Porque assim o trabalho é de forma muito perto das câmaras.
E também há uma necessidade de se envolver estas capacidades também nas câmaras. Como é esse trabalho?
[00:24:02] Paulo Simões: A tua pergunta é muito interessante.
O modelo de governança inteligente parte daquilo que é, ou terá como pressuposto, nós conseguirmos chamar os atores do ecossistema para o processo. E as câmaras municipais são, obviamente, um dos principais atores. Até porque ainda por cima são entidades, autoridades locais, e são autoridades locais que fazem parte da CIM. Tem sido um desafio, Porque a abordagem que muitas vezes existia para estas matérias, ou para esta dimensão, era o informático. E o paradigma mudou.
Eu não vou dizer que é uma expressão que costumo dizer, porque fica mal em podcast, mas eles ainda não sabem, mas já foram notificados que já não fazem falta. Se é um bocadinho mais duro, mas não vou ser, porque a Marta já está a rir olhando para mim.
E tem sido difícil, difícil.
Nós temos 5 anos deste trabalho. Só este ano é que já os começamos a conseguir chamar mais perto de nós, para eles perceberem a importância dos dados. Porque isto já não é ferro. Já não é ferro.
Mas, por outro lado, vamos chamá-los e vamos ter outro desafio.
que é o desafio do mercado. O mercado olhou para isto e olha para isto como uma oportunidade para vender plataformas.
E então os informáticos, como todo o ecossistema compra, e o comprador público normalmente é incompetente, eu próprio falo de mim, não conhece.
Então vai comprar plataformas. Isto vai se tornar uma feira de plataformas.
E esse é outro problema que nós temos aqui, que é a incapacidade. Porque vamos naturalmente ter essa dor de crescimento.
E o mercado vai vender plataformas, plataformas, a administração pública vai comprar, vai comprar plataformas, e não tem uma visão do todo. Porque uma coisa, e por isso é que é importante, os países, nomeadamente o que estamos a fazer em Portugal, com a Estratégia Nacional de Territórios Inteligentes, com a ENTI, da qual a CIM foi piloto, para o desenho da Estratégia Nacional, porque a Estratégia Nacional chamava-se Smart Cities, e com a nossa abordagem mais territorial passou-se a chamar-se Territórios Inteligentes, até porque a visão que a inteligência só pode estar na área urbana é de tal forma tão ridícula, quer dizer que o resto da população não conta, e os outros territórios não contam.
E isso não pode acontecer. Por isso, não fugindo à tua pergunta, tem sido um trabalho difícil. Estamos a capacita-los, estamos a chamá-los cada vez mais.
Mas vamos passar por outro problema, depois de os trazer mais perto de nós, vamos ter outro desafio, que é as plataformas.
Porque se nós saímos ali à fora e vais ver o que é que está ali, é para vender plataformas. E todas são uma plataforma melhor que a outra, porque as plataformas é o que existe também. E é necessário haver uma abordagem mais holística, mais integrada.
e que independentemente da marca da plataforma, mas que haja uma visão política pública muito concreta naquilo que é a criação de valor efetivo para as pessoas, ou para o território, para as empresas, mas que se pense de uma forma mais holística para não estar aqui a desperdiçar milhões e milhões de euros em plataformas que depois não criam valor às pessoas, nem às empresas, nem ao território.
[00:27:23] Gretel Schaj: Também porque no final da pergunta é qual é o caso doce, para que fazemos isto, para qual é a utilização deste produto.
São as perguntas às pessoas, quais são as necessidades e também que não tem que cada cime, cada cidade, cada município ter que encontrar a resposta para isso, quando todos temos objetivos e também necessidades semelhantes, não é?
[00:27:52] Paulo Simões: Muito bem. É isso mesmo. Acabaste de dizer que deve ser a visão estratégica de um país. Ou seja, os casos dos municípios e dos territórios, 90% dos casos estão desenhados.
Não são diferentes uns dos outros.
Estão pensados. Claro que depois pode haver mais uma especificidade ou outra, depende do território, porque é mais rural, é mais urbano, tem mais densidade populacional, tem menos densidade. Há mais algumas especificações, mas 90% dos casos estão desenhados, os casos de uso.
Por isso é importante é que esses casos de uso sejam claramente repensados e estejam estruturados. O problema da Estratégia Nacional de Territórios Inteligentes, e está a tocar nesse assunto, é esse.
Porque não fechou os casos de uso.
abrir os casos de uso. Ou seja, fala de tudo e mais de alguma coisa.
E o problema é que a falta de literacy, de capacitação dos atores públicos, quando falo isso falo sempre de mim, como menos capacitado.
Vai fazer com que existam compras ou decisões que eventualmente não sejam as melhores face aos recursos existentes.
E isso preocupa-me.
Olhamos, temos um momento de oportunidade única.
E o país, neste caso Portugal, e em particular a região Oeste, o que quer ser é um piloto para melhorar as vidas das pessoas, um piloto de território, de política pública, para que efetivamente viver no Oeste, trabalhar no Oeste ou investir no Oeste e visitar o Oeste seja um privilégio e seja muito, muito atrativo do ponto de vista daquilo que é o nosso modelo de vida e modo de vida na região.
Aproveitar esta transição digital para aumentar e potenciar esta forma como nós olhamos para o território harmonioso, digital, inteligente, inclusivo, onde todas as pessoas contam, onde a tecnologia é um meio para melhorar todos os dias e para o atinamento de forma fundamentada, suportada, daquilo que é a vida de cada um de nós, é o nosso objetivo.
nunca apresentarmos mais uma plataforma bonita, nem mais uns dados que não acrescentam valor. Esse é o foco.
Esse é o meu caso de uso todos os dias, que eu tenho na minha cabeça, para efetivamente ser justo ao público.
[00:30:06] Gretel Schaj: Falavas das pessoas e eu gostaria também de ouvir um bocado mais disso porque a inovação não é apenas uma questão de tecnologia, já falámos disso, também é uma questão das pessoas.
Como é que este CIM está a envolver os presidentes nesta jornada, nestas atividades e o que é o papel que desempenha o contributo dos cidadãos na definição do futuro da região?
[00:30:30] Paulo Simões: Tens toda a razão. Essa é a pergunta que todos os dias nós nos fazemos a nós próprios. Como é que nós conseguimos ter um modelo daquilo que chamamos de smart governance? Como é que nós conseguimos ter participação?
Modelos de participação ativa dos cidadãos?
para até responder um pouco àquilo que é o desenho da política pública ou das políticas que são importantes ou que são fundamentais para o território onde as pessoas estão a viver e visitam e investem e trabalham. E percebemos duas coisas nessa estratégia de conseguir envolver, trabalhar com a expressão em inglês, de conseguir envolver as pessoas.
O modelo de envolvimento das pessoas já não pode ser por decreto, Já não conseguimos mandar um papel para a consulta pública e dizer que temos 90 dias para as pessoas responderem e receber contributos.
Isso é para chorar, a rir. Isso é quando não se quer envolver ninguém, faz-se isso.
E desculpem-me todos os meus colegas, porque é o que está na lei, não é? Nas leis nacionais de todos os países, que é a governança em rede, que é aquilo que nós estudamos na gestão pública, que é vamos colocar em consulta pública as pessoas e depois ninguém responde.
e não conseguimos envolver nada.
O modelo que nós estamos neste momento a planejar é ter organizações de cidadãos por áreas.
E com base nessas organizações que são representantes dos cidadãos por áreas, mobilidade, saúde, educação, nós chamamos para o desenho da política.
Temos riscos.
que essas pessoas não representem efetivamente os cidadãos na sua plenitude.
E por isso, essa sabemos que é um caminho que estamos a desenhar, o outro é obviamente ter a capacidade de estar no telemóvel das pessoas.
E é só o caminho que nós estamos a tentar desenhar, que é como é que nós conseguimos receber o contributo das pessoas quase que intuitivo no telemóvel.
[00:32:43] Gretel Schaj: No tempo real também.
[00:32:45] Paulo Simões: Isso. E conseguimos traduzir o contributo deles em informação para a decisão.
E esse é o sonho que eu tenho. Como é que nós conseguimos chegar aos diferentes níveis de população que nós temos.
sexo masculino, sexo feminino, idades, porque são sociedades diferentes, muitas vezes. Porque se olhamos para uma mulher da idade da minha mãe, com 83 anos de diferença, de uma mulher com 30 anos, 40, ou um homem com 85, diferente de um homem de 25. Não é a mesma coisa. Não é a mesma coisa.
E por isso, perceber como é que nós chegamos ao telemóvel dele, de uma forma intuitiva, e ele nos pode ajudar a recolher informação nesse modelo de decisão de políticas públicas, é o nosso foco. O que vamos usar é a tecnologia, a revolução industrial, esta revolução industrial, esta transição digital, para colocar isso nas pessoas. Mas é um grande objetivo. Qual é o problema?
O problema é que há sempre um meio termo, que é o regime geral de proteção de dados.
Eu não posso chegar lá porque eu não posso ter os dados das pessoas, eu percebo isso, não estou contra nada disso, pelo contrário, eu sei que os dados hoje é um tema muito crítico, mas a verdade é que temos que arranjar forma de, salvaguardando a proteção de dados das pessoas, fazer com que as pessoas estejam mais perto de nós. Não são as pessoas que têm que vir correndo para nós. A política pública e os políticos é que têm que chegar perto das pessoas.
E usar a transição digital para estar mais perto das pessoas, até porque a democracia, a nossa democracia, é a melhor coisa do mundo, mas temos que saber cuidar dela.
E só cuidando dela, com este modelo de governança mais participativo, mais inteligente, é que nós vamos ter uma democracia mais saudável.
onde as pessoas se sintam, efetivamente, parte desse quadro democrático.
Onde a política pública, e sintam, compreensam que as políticas públicas efetivamente se preocupam com eles, e com a vida deles, e com a vida delas.
E esse é um objetivo. E por isso estamos a tentar perceber como é que nós criamos aqui um modelo de governança participativa, nomeadamente com a co-produção ou co-criação de políticas por parte dos cidadãos.
Obviamente que aí, e mais um desafio, como falava inicialmente, temos que ter a capacitação também dos cidadãos.
Porque hoje muitas vezes nós sabemos que se utilizam as redes sociais e outros instrumentos de maior proximidade para poder ter outro tipo de contributos não tão saudáveis, que nós olhamos para aquilo que está a acontecer na Europa e no mundo, principalmente no mundo, com fake news e falta de educação para os factos, que é um problema de falta de educação. As pessoas não têm educação para os factos. Quando eu digo falta de educação é mesmo incapacidade hoje das pessoas saberem ler um facto e não entrarem em fake news.
E a verdade é que Que tampouco.
[00:35:40] Gretel Schaj: É fácil, lógico, porque podes ver um vídeo que tem imagens que parecem que são reais, mas não são.
[00:35:47] Paulo Simões: Isso mesmo. E essa questão da educação para os factos é um tema que me preocupa com o equilíbrio, com a participação das pessoas.
Porque se as pessoas não tiverem essa capacitação, se a sociedade não for mais inteligente, Teremos aqui alguma dificuldade, mas são desafios, temos que conseguir cumprir os desafios. O que nós não podemos é baixar os braços e não centrar as políticas públicas nas pessoas.
Nós não podemos e não devemos, nunca, deixar de cuidar da nossa democracia e de cuidar das pessoas que são o foco da governação. É por isso que os políticos existem, é por isso que a ciência política existe, é por isso que a gestão pública existe. São para as pessoas.
E este é o meu caminho, eu não saio daqui.
Enquanto eu não consigo viver de outra maneira, não percebendo que aquilo que faço tem um caso duso, que é, são as pessoas e melhorar a vida das pessoas.
A governança inteligente e a participação das pessoas é um tema, para mim é o tema mais difícil, mais difícil, no processo, nesta nova revolução industrial, neste processo que estamos a passar. Principalmente, e eu vou te responder aqui um bocadinho, naquilo que é uma abordagem mais pessoal.
Principalmente com o problema que nós estamos a viver de instabilidade geopolítica e geostratégica no mundo.
E agora desfocando aqui um bocadinho, não enquanto secretário-gestor público da CIM, mas enquanto académico, do ponto de vista daquilo que é o nosso sistema político global, os equilíbrios, e a parte principalmente relativamente aos sistemas democráticos.
Tenho receio enquanto cidadão do mundo.
[00:37:24] Gretel Schaj: Cada vez mais tem um tema mais importante hoje com os resultados das eleições nos Estados Unidos.
Estamos a ver também mudanças.
[00:37:36] Paulo Simões: Sim, tu disseste isso agora e quando eu abordei.
Eu costumo dizer aos políticos, não é?
Que as pessoas é que votam, não é? E se as pessoas votam, alguma coisa se passa. E se não votam neles, alguma coisa se passa. Ou se não votam naqueles que são os partidos mais equilibrados, como avisa mais.
Então há algum problema e se passa. Então temos que perceber o que se passa.
Porque ninguém pode. Temos que perceber o que se passa nos Estados Unidos. Temos que perceber o que se passa, e desculpa dizer-te isto, na Argentina.
Temos que perceber o que se passa na Europa. E eu não estou a falar mal de ninguém. Estou a tentar perceber, estou a tentar dizer. Algo se passa e as pessoas têm sempre razão.
Porque as pessoas respondem através do seu voto à sua insatisfação em algo. As pessoas têm que sair de casa, não é? E em Buenos Aires, que conheço-me felizmente bem, e não podem comprar um produto que ontem custava 1, amanhã custa 1.25. E a inflação foi só de 1.25. Quer dizer, aconteceu comigo.
Em Buenos Aires, quer dizer, é impossível, as pessoas não podem ser felizes, não podem viver. Porquê que os políticos existem para responder a isto?
A pessoa não pode pagar 400 euros de renda em Portugal e um dia, ou em dois dias, durante duas decisões, de repente passou para 700 euros porque a Uribó subiu e já não tem dinheiro para pagar a creche do filho e da filha.
E a política não faz nada.
Calma! Isto é que são uma abordagem daquilo que são as políticas públicas sentadas nas pessoas e os serviços públicos sentados nas pessoas. E os dados servem-nos para isso mesmo, que é para percebermos o que é necessário centrar nas pessoas, quais são as necessidades das pessoas com base em dados, com base naquilo que é uma informação e numa decisão racional do ponto de vista de evidências.
E eu penso que esse é um caminho que nós vamos ter.
E vamos ter que percorrer para bem da democracia. Obviamente, aquele modelo europeu, eu não posso dizer, não é muito simpático, aquele modelo que vai correr tudo, vai dar tudo certo, vai dar tudo certo, como o Brasil, não é? Tem o nosso povo irmão, vai dar tudo certo. Já não é bem assim.
Nós percebemos que pode não dar certo.
Estamos a ver hoje, pode não dar certo.
E vai dar tudo certo. É uma expressão que eu gosto muito porque sou apaixonadamente pelo povo brasileiro. Gosto muito mesmo. E me revejo muito em algumas das suas formas de atuação.
Talvez por ser americano. Mas pode não dar certo.
E isso preocupa efetivamente também. E vai preocupar a Europa. Vai preocupar o Oeste.
Porque isto vai ter implicações.
vai ter implicações naquilo que são as decisões políticas públicas para a sustentabilidade, para o net zero, para os recursos sustentáveis, para a economia verde, as pessoas não estão disponíveis para pagar.
Isto nós temos que ser também...
Se as pessoas não têm dinheiro para comer ou para pagar a renda, se as pessoas quando ouvem falar em milhões e milhões de euros ou de dólares investidos na transição verde e depois não conseguem pagar a sua renda de casa ou não conseguem dar comida aos filhos, alguma coisa se passa.
Por isso é que esta também transição verde tem que ser equitativa e democrática, tem que ser acessível para todos.
Esse é um dos temas.
Se há vados que dizem que não está a ser democrática, a democratização desta transição verde digital tem que ser uma evidência. Quem é que tem que responder isso? São os políticos.
O desenho das políticas tem de ser esse. E não podemos ter uma abordagem... Mais uma plataforma, mais uns...
Com uma linguagem altamente técnica, porque eu estava aqui contigo, podemos ter uma linguagem altamente fechada, onde estamos da tecnicidade de falar sobre ciências tecnológicas... Que ninguém compreende. Que ninguém compreende. E nem ninguém quer saber de nós.
Só aqueles que interessam, que a gente continua a ter uma linguagem fechada.
E isso há uma agenda.
E comigo nisso não conta. Ou seja, há uma agenda para fechar de um domínio técnico, da qual nós temos que nos desprender e temos que ligar agora às pessoas. Estes smart cities que aqui estão, onde naturalmente é um momento único, mas não deixa de ser um momento de feira de vaidades. Tem que passar às pessoas, as pessoas têm que perceber o que está aqui. Mas isto é para quê? Vamos fazer o quê? Lá foi fazer o quê? O que é que estamos a fazer? Concordo ou discordo, mas tem que ser focada nas pessoas.
[00:41:55] Gretel Schaj: Paulo, muito obrigada por todas as tuas ideias, esta visão, também a conversa da geopolítica, eu acho que também poderíamos falar por horas sobre isto, mas obrigado.
Agora vamos passar ao nosso segmento de podcast divertidos e o segmento que escolhemos para hoje chama-se Inspire Us.
Vou pedir-vos que nos inspirem só um bocadinho, como uma história, uma situação ou qualquer coisa que tenha inspirado recentemente relacionada com o vosso trabalho.
[00:42:48] Paulo Simões: Algo que seja inspirador. E com o nosso trabalho.
Vou-te eventualmente falar de uma situação, ou de uma questão da educação, da área da educação.
Com uma menina, com oito anos, num concurso de empreendedorismo, nas escolas, que a CIMA organiza no Oeste todo, Ganhou.
Ganhou-se concurso a nível regional. E, no fim, ela ganhou, mas eu dei os prémios igual para todos. Ou seja, eram três, mas não consegui, porque chorei mais do que ela.
E, no fim, ela vem-me dizer que tinha recebido um computador e internet, e que agradecia muito.
Porque os pais não tinham capacidade financeira para ter um computador, e ela tinha um computador.
E eu cheguei a casa, fui para casa, eu tenho uma filha, que é a coisa que eu mais amo da minha vida, e olhei para ela, que tem as coisas, e disse, aquilo que são não deixar ninguém para trás, Eu acho que nesse momento eu senti-me mais realizado, e hoje sou mais realizado. A forma como ela me veio dizer, quando ela soube que era da CIM, porque ela não tem a noção de que é um gestor da CIM, não tem que ter, mas soube, ouviu que era a CIM que tinha dado o computador e a internet, e ela vivia numa aldeia, e com base nesse computador começou a ter ideias e a fazer coisas.
Marca-te para a vida, não é? Marca-te. Com uma menina de oito anos, fiquei assim um bocadinho. Não fiquei assim, fiquei muito.
Fiquei muito. Eu não partilhei muito isso até com a minha equipa.
Porque são coisas muito pessoais, não é?
Porque a menina que falou comigo, ela chegava-me à minha cintura.
Não é?
Eu não te consigo... Isso te emociona-te um bocadinho, não é?
Porque ela disse que nunca tinha tido a possibilidade de ter um computador dela.
Os amigos da escola tinham.
Alguns. E ela não tinha.
E eu disse-lhe, e então, qual é o teu maior desafio agora? O que é que tu gostavas?
Eu gostava que alguém me ajudasse a trabalhar melhor no computador.
Então agora, lá está, nós temos que ouvir este menino, não é?
Agora estamos a fazer um programa de capacitação para ajudar os meninos também, porque há pais que não têm essa literacia, para ajudar os meninos também a terem melhor desempenho no primeiro ciclo, que é os meninos da escola primária, do primeiro ciclo.
é poderem ter algumas habilidades, algumas competências necessárias. Isso marcou-me. Marcou-me principalmente, obviamente, as crianças são crianças, e marcou-me e deu-me mais energia para fazer aquilo que gosto, que é só focar nas pessoas. Mas pronto, esse foi um momento que me marcou. E como vai marcar?
Todos os dias penso, ou quando questiono o que é que estou cá a fazer, porque às vezes há momentos que se tu for honesto intelectualmente, olhas-te ao espelho, ou quando vais a conduzir, que é os momentos de maior sonidão que eu tenho, que me ajudam muito naquilo que é a forma como eu olho para a vida.
Quando o telefone não toca, que está sempre a tocar, ainda bem que agora te pusemos no modo de avião, e que te questionas qual é o valor que eu faço todos os dias, Porque todos nós temos momentos desses, não é? Se estou a fazer o que devia ter feito, penso na menina que só me vejo assim uma cara, que já não a vejo lá.
E reconheço que foi um momento único.
[00:46:37] Gretel Schaj: Ok.
Obrigada, Paulo, pela história muito pessoal, mas também muito inspiradora.
Passamos agora à última pergunta, e esta é a pergunta que fazemos todos os convidados no nosso podcast.
Para ti, o que é uma cidade inteligente?
[00:46:58] Paulo Simões: O que é uma cidade inteligente? O que é um território inteligente? Eu vou te dizer o que é um território inteligente. É um território que, usando a tecnologia, para melhorar a vida das pessoas e melhorar os seus recursos e prestar melhor serviços públicos através dessa tecnologia, descarbonizando a sociedade e o território com produtos e serviços mais limpos e amigos de uma economia mais verde e mais sustentável.
Mas uma cidade inteligente é aquela que melhora a vida das pessoas.
através da utilização desta tecnologia, desta transição verde.
Dando condições de vida mais saudáveis, com mais tempo para as pessoas viverem com zonas urbanas e rurais mais criativas, mais atrativas, com escolas e modelos de ensino e saúde pública, utilizando as tecnologias, mas sempre com foco.
Um território inteligente é aquele que utiliza de forma harmoniosa a tecnologia e a parte da sustentabilidade sempre de forma democrática, com acesso democrático às pessoas, melhorando a vida das pessoas. Eu vejo hoje o termo de inteligência e sustentabilidade muito com foco naquilo que são as pessoas.
Nada disto fará sentido se isto não melhorar a vida das pessoas e por ser uma cidade inteligente ou um território inteligente é aquele que utiliza esta Duplo transição. A transição gêmea que está a acontecer de forma muito rápida.
E respondendo àqueles que são os desafios da sociedade e os desafios da vida das pessoas.
Porque esse é um tema que nos preocupa. É um pouco isso.
[00:48:45] Gretel Schaj: Muito, muito obrigado pelo teu tempo e por partilhar conosco as tuas ideias, a tua visão. Paulo, eu gostei muito de falar contigo na Smart City Expo hoje.
[00:48:54] Paulo Simões: Eu também, eu queria-te agradecer muito, foi um enorme prazer e acima de tudo posso-te dizer, foi mesmo muito prazer estar contigo, está bem? Foi um gosto enorme e estás convidada quando vires a Portugal, quando fores a Portugal, estás convidada para ir ao nosso Oeste.
[00:49:07] Gretel Schaj: Já estou pronta.
[00:49:09] Paulo Simões: E virás lá, serás nossa convidada também, para também tu presenciares um pouco aquilo que nós fazemos lá, está bem? Foi um enorme prazer, com esta simpatia, com esta inteligência, foi um gosto enorme, está bem? Muito obrigado.
[00:49:22] Gretel Schaj: Obrigada. Para todos os nossos viventes, não se esqueçam que podem sempre criar uma conta gratuita em WSmart Cities para saber mais sobre os projetos, soluções e implementações da Smart City. Muito obrigada.
[00:49:35] Tamlyn Shimizu: Obrigada a todos por assistir. Vejo vocês na próxima parada na jornada para uma vida mais urbana.