Episode Transcript
[00:00:06] Tamlyn Shimizu: Bem-vindos ao Smart in the City, o podcast do BABLE onde trazemos os melhores atores da arena da cidade inteligente, espalhando diálogos e interações em torno dos ativistas e temas mais prevalentes para os cidadãos de hoje e as gerações de amanhã. Eu sou sua apoiadora, Tamlyn Shimizu, e espero que você goste deste episódio e ganhe conhecimento e conexões para acelerar o mudando para uma vida mais urbana.
Smart in the City é trazido para vocês pela BABLE Smart Cities.
Nós possibilitamos processos de pesquisa e desenvolvimento estratégico para cocriação e implementação. Para saber mais sobre nós, por favor visite a plataforma BABLE na BABLE-smartcities.eu.
[00:00:46] Gretel Schaj: Olá, sou Gretel Schaj e lidero a equipa do Setor Público em Espanha e Portugal para a BABLE.
Hoje tenho o prazer de vos gravar este episódio em português e em direto do Smart City Expo World Congress, onde a BABLE é um parceiro colaborador e media partner, trazendo-vos entrevistas emocionantes em várias línguas no terreno.
Obrigada ao Fira Barcelona pela fantástica colaboração mais uma vez.
Neste episódio, Vamos explorar um importante polo cultural, industrial, comercial e agrícola em Portugal, o município da Famalicão.
Estou entusiasmado por aprender como o nosso convidado de hoje sobre as iniciativas de Smart City e outras coisas interessantes que estão a acontecer na cidade.
Hoje tenho comigo a melhor pessoa para o cargo, Vítor Moreira, diretor-geral do município de Vila Nova de Formalical, que é também o responsável pelas cidades inteligentes e transformação digital e o responsável pela contratação pública.
Bem-vindo.
[00:01:54] Vítor Moreira: Obrigado.
[00:01:55] Gretel Schaj: Gosto de começar com uma pergunta para quebrar o gelo e de nos ajudar a conhecer melhor a vossa cidade.
Por isso, a nossa pergunta da OGE, consegue descrever o formalical como três emojis?
[00:02:12] Vítor Moreira: Uma pergunta interessante.
Provavelmente, posso escolher quatro?
[00:02:19] Gretel Schaj: Pode, pode.
[00:02:20] Vítor Moreira: Pronto, então quatro.
Eu escolheria um emoji de pessoas, outro de indústria, verde, e um emoji de conectividade. Acho que estes quatro emojis representam bem o que é o município de Famalicão.
E representam bem porque, na verdade, a nossa visão que está no plano estratégico Famalicão 30 diz que nós somos uma comunidade tecno-industrial conectada num território verde multifuncional.
E, portanto, somos a comunidade das pessoas, somos conectados ao mundo e dentro do território português, quer fisicamente, quer hoje nas plataformas digitais estamos conectados e depois somos industriais e num território verde multifuncional que funciona em várias dimensões. Portanto, esta é a característica de Fomalicão e esta é a Fomalicão.
[00:03:22] Gretel Schaj: Muito bom, eu acho que é uma boa introdução.
Eu gostaria também de saber mais sobre você enquanto pessoa, qual é a sua formação, o que a levou a desempenhar este papel e o que é o motivo?
[00:03:38] Vítor Moreira: Bom, eu sou gestor de profissão, estou no município de Famalicão a fazer gestão no município e, portanto, o que me trouxe a esta questão das smart cities e da transformação digital foi naturalmente acompanhar os tempos e conseguir ir à frente do tempo, no sentido de proporcionarmos aos cidadãos em Fomalicão a possibilidade de, através desta mudança que a Smart Cities proporciona, nós conseguirmos dar à população uma qualidade de vida que seja mais próxima àquilo que as pessoas querem.
E, portanto, o que me trouxe aqui foi, de facto, um desafio. Como é que nós conseguimos, utilizando a tecnologia, mas, acima de tudo, como é que nós conseguimos implementar processos de gestão que tornem as cidades e os territórios melhores para as pessoas?
[00:04:37] Gretel Schaj: A tecnologia ali é um médio.
[00:04:40] Vítor Moreira: Completamente. A tecnologia é um meio de lá chegar, é uma ferramenta.
O que importa é a gestão que se possa fazer com as pessoas no território, numa cidade.
[00:04:52] Gretel Schaj: Para compreender isso melhor, tem algum caso de utilização, um exemplo específico ou boa prática que considera único a destacar e quais foram as lições aprendidas?
[00:05:08] Vítor Moreira: Eu podia destacar Nós neste momento estamos a fazer a revisão do Master Plan da cidade. E essa revisão foi feita com os cidadãos.
Nós temos a plataforma Smart City e na plataforma Smart City construímos uma forma de as pessoas irem lá participar e das pessoas poderem dizer e mesmo assinalarem no mapa eu quero dizer algo sobre este terreno, eu quero dizer algo sobre esta praça, eu quero dizer algo sobre esta estrada. E então podiam ir ao mapa, assinalar lá e colocar a informação que queriam, o que é que gostariam de ver naquela praça, o que é que gostariam de ver naquele espaço. E isto fez com que nós conseguíssemos envolver o cidadão.
Tivemos mais de mil participações, o que é muito, o que é muito interessante. E, portanto, as pessoas envolveram-se num processo de construção da cidade.
Eu acho que este é um dos melhores exemplos que nós podemos ter de como é que a ferramenta tecnológica, através da Smart City, trouxe as pessoas para a participação da construção da cidade.
[00:06:22] Gretel Schaj: E como é que informaram a cidadãos desta opção, deste processo de participação?
[00:06:30] Vítor Moreira: Nós colocámos no website do município e em outras ferramentas, o município tem o website, tem uma app e, portanto, fomos divulgando também nos jornais, através da mídia, fomos divulgando como é que as pessoas podiam participar.
E, portanto, tiveram um período de tempo para participar, esse período de tempo já acabou, há muito pouco tempo, mas já acabou e as pessoas participaram.
Quando as pessoas que se querem envolver, as pessoas encontram forma de participar, encontram forma de encontrar essa informação para participar.
[00:07:01] Gretel Schaj: Como é agora o processo de processar essa informação, esses inputs da cidadania?
[00:07:10] Vítor Moreira: Essa é uma questão muito interessante, que é como é que nós Olhamos para o que temos, que são dados, como é que nós transformamos os dados em informação?
E essa questão é uma questão muito importante do ponto de vista do que são as smart cities. Como é que nós transformamos estes dados? Nesta altura estamos a olhar para os dados, estamos a categorizar os dados, perceber se as pessoas que participaram eram proprietárias de terrenos, se eram interessados.
Uma parte são proprietários, outra parte são interessados naquela… em dizer algo sobre a cidade. Conseguimos perceber em que… sobre que bairros ou sobre que freguesias é que as pessoas estão a participar. Enfim, temos um conjunto de informação que agora estamos a retirar dessa participação. E depois, naturalmente, toda a informação será analisada pormenorizadamente para percebermos se vamos aceitar ou não algumas sugestões dadas pela população.
[00:08:02] Gretel Schaj: Há um bom trabalho por diante.
Há outro tema que eu encontro interessante, que é como é que Femalicão incorporou o pensamento crítico nas suas iniciativas da cidade inteligente para ir além da média aplicação da tecnologia e em vez disso garantir um progresso significativo e a longo prazo?
[00:08:31] Vítor Moreira: O nosso principal trabalho no início deste processo foi desenhar o modelo do que nós queríamos fazer para a Smart City.
Na nossa perspectiva, a pior coisa que pode acontecer é irmos logo à procura das ferramentas, da tecnologia.
irmos ao mercado ver que tecnologia que existe. Mas depois a tecnologia vai se aplicar ao que nós temos. E portanto, na verdade, nós não fazemos transformação. Digitalizamos algo que já existe. Nomeadamente, digitalizamos o erro.
Isto é que não pode ser. E portanto, o que nós fizemos desde o início foi, nós temos que construir um framework de uma smart city. Temos que perceber o que é que nós queremos.
Temos que perceber que na construção de uma smart city nós podemos ter escolhido sensorizar um parque para pôr regra automática, e isso era só uma parte, e isso podia ser uma smart city, uma parte de smart city, mas envolvia um setor ambiente.
O que nós fizemos foi envolver toda a organização.
Nós encontramos formas de chegar a toda a organização. Quando desenvolvemos o framework e quando começámos a construir, construímos logo de raiz, logo no início, uma, um layer para cada uma das áreas, cada um dos departamentos da Câmara Municipal, para que todos estivessem envolvidos no processo.
E isto para nós foi fundamental, porque esta questão leva-nos a que nós depois já consigamos desenvolver a atividade e ir à procura das ferramentas e não ser um mercado a trazer-nos as ferramentas que nós não sabemos que precisamos.
Tem que ser o processo ao contrário e foi assim que o fizemos.
Eu diria que ganhámos tempo, mas construímos a partir daqui, que foi pensar o que é que nós precisávamos, ir à procura do mercado e ver, ok, isto interessa-nos. Aquilo interessa. E não ser o mercado a trazer. Porque quem entra neste mundo das smart cities, e nós estamos na feira das smart cities em Barcelona, e eu costumo dizer que isto é como pôr uma criança numa loja de guloseimas.
Ou levar uma pessoa para ir ao Disney. Quer andar em tudo, quer comprar tudo, quer toda a tecnologia disponível.
Não é assim, nem deve ser assim.
cada cidade deve adaptar aquilo que é a sua necessidade.
E há muitas tecnologias que nós vemos aqui em Barcelona, nesta Feira de Ação Artesítica, que é fantástica, que não se adaptariam à Famolicao. E, portanto, não temos que ir atrás, não tem que ser a tecnologia que tem que me empurrar, eu tenho que saber que tecnologia quero, para ajudar ao processo.
[00:11:05] Gretel Schaj: A pergunta é qual é a necessidade, qual é o problema do início.
[00:11:10] Vítor Moreira: Sim, claro.
Essa é a verdadeira questão, que é que problemas é que nós temos, que processo de gestão, de transformação digital é que nós temos, como é que nós vamos olhar para o processo com a ajuda de tecnologia e dizer, ok, nós aqui podemos meter tecnologia, acolá podemos meter, se colocarmos tecnologia aqui ou acolá, nós seremos mais eficientes. Então desenhar o processo novo com eficiência e trazer a tecnologia para ajudar nessa eficiência.
Em muitas circunstâncias essa eficiência pode ser concluída até sem tecnologia.
Porque as cidades já eram inteligentes. O que elas agora estão a meter é muita tecnologia para poder ajudar nessa inteligência.
Nós já cá estávamos, ou melhor, a cidade já cá estava quando nós chegámos.
E foi construída assim, foi construída com muita inteligência de todos os nossos antepassados.
Portanto, hoje chamamos smart cities ou cidades inteligentes, mas as cidades foram construídas com muita inteligência posta por muitas pessoas, muitas gerações.
Nós hoje temos umas ferramentas informáticas e tecnológicas que nos ajudam a dar um passo, se calhar, maior. Provavelmente um passo maior.
Mas a inteligência já cá estava. Nós temos que ser mais inteligentes, utilizar as ferramentas para criar essa tal cidade inteligente.
[00:12:26] Gretel Schaj: E como eu também estou a ouvir muito de outras cidades, que eu trabalho com os colegas de outros departamentos, não é fácil.
Como utilizamos essa inteligência dos outros departamentos?
Por exemplo, como foi o trabalho para o desenvolvimento deste framework?
[00:12:52] Vítor Moreira: Sempre que trabalhamos com o departamento, A minha perspectiva é o que é que eu lhes vou dar, não o que é que eles têm que me dar.
Porque se eu estou na perspectiva do que é que eles têm que me dar, Se eles não virem o que é que ganham, dificilmente vão dar, e por isso, eu até estava a dizer, que há sempre esta coisa que se ouve, é muito difícil trabalhar com os outros departamentos.
Os outros departamentos têm que perceber o que é que vão ganhar.
Se nós não conseguimos demonstrar o que é que o departamento vai ganhar, provavelmente ele não vai ganhar.
Porque se eu não consigo demonstrar o que é que vai ganhar, se calhar eu não estou a dar nada para ele ganhar.
E eu tenho que ter essa capacidade de perceber, ok, se eu lhe der isto, e ele vai ganhar com isto. Se ganhar com isto, a seguir ele vai me dar algo mais, para poder ganhar mais à frente.
E portanto, é um processo evolutivo, é um processo que já não para, a partir do momento em que nós consigamos trazer algo de um departamento. E pode ser os dados mais simples que existam. Para!
Todas as organizações, todos os departamentos têm muitos dados. Como é que nós transformamos esses dados em informação?
Se lhes dermos a informação, provavelmente eles no momento seguinte vão nos dar mais dados ou até já informação.
Se nós juntarmos dados com dados e conseguirmos informação, no momento seguinte podemos estar capazes de juntar informação com informação e dar conhecimento.
E é isto que a organização precisa de conhecimento.
Analítica predictiva.
E portanto, em todo este processo nós temos que caminhar com calma Põe-as bem assentos na terra, para não estarmos a pensar que vamos conseguir o céu e a terra, não é assim? Custa, custa a fazer.
É preciso resiliência para ir fazendo, mas é muito importante esta dialética entre nós e o outro departamento. E sempre, nunca pode ser na perspectiva de eu quero que eles me deem isto. Não, não. A perspectiva é o que é que eu lhes consigo dar se tiver aqui alguns dados. E é assim que nós conseguimos e foi assim que fizemos isto. Conseguimos demonstrar o que é que lhes íamos dar e conseguimos ter os departamentos connosco para construir o framework e a construção da Smart City que está a correr.
[00:15:08] Gretel Schaj: É uma negociação com eles?
[00:15:10] Vítor Moreira: Permanentemente.
Mas tem que ser assim.
Tem que ser assim. Sob pena de, se não for essa negociação e se nós não conseguimos perceber que isto é o win-win, alguém pelo caminho vai ficar para trás porque se acha que não vai receber nada, se não vai ganhar.
[00:15:26] Gretel Schaj: E também, para o teu trabalho, não consigues desenvolver um caso disso de forma independente. Precisas dos problemas e o conhecimento que eles têm para desenvolver uma ideia.
[00:15:38] Vítor Moreira: Com certeza.
Não é possível, de facto é isso mesmo, não é possível nós fecharmos dentro das nossas paredes e agora acharmos que vamos mudar o mundo.
Não. O mundo é muito rico.
Tem muita informação, tem muitos dados, tem muitas interações interpessoais que são riquíssimas do ponto de vista da construção de um processo smart city e portanto todas estas questões são fundamentais.
Ora, uma equipa que pensa que vai mudar o mundo dentro de umas paredes não está a mudar absolutamente nada. Portanto, nós precisamos de interagir com os outros e perceber qual é, em última instância, do ponto de vista do processo, qual é o modelo de negócio que nós temos de criar com a outra entidade.
[00:16:25] Gretel Schaj: E não a esquecer o lado, o ponto humano.
Porque a tecnologia é importante, mas é um médio.
[00:16:32] Vítor Moreira: Com certeza. E esse lado humano é Na minha perspectiva, o principal ponto deste processo de smart city. Como é que nós vamos conseguir chegar à aspiração, àquilo que os cidadãos pretendem? Quer seja também internamente, mas acima de tudo o cidadão.
O que é que o cidadão quer?
O que é que nós percebemos que o cidadão quer? Como é que nós conseguimos ter ferramentas para envolver o cidadão?
Tradicionalmente acontece assim. Em Portugal, nos municípios, o presidente da Câmara, o mayor, é eleito de 4 em 4 anos.
Mas no intervalo desse tempo é preciso perceber como é que as pessoas estão a reagir aquilo que se está a fazer. Portanto, ter essa perceção da condição humana, o que é que as pessoas vão sentindo, se estão mais contentes ou mais descontentes com aquilo que o município vai fazendo, é fundamental para alinharmos a estratégia que se pode fazer.
[00:17:34] Gretel Schaj: Muito interessante. Também, hoje, outra questão é o tema da sustentabilidade.
O futuro, o net zero, os seus objetivos, as missões, Quais práticas sustentáveis foram integradas na vossa forma de trabalhar em Famalicom? E como é que essas estratégias contribuíram para uma abordagem equilibrada entre inovação e responsabilidade ambiental?
[00:18:07] Vítor Moreira: Relativamente à questão da sustentabilidade, já até acabou por acabar com a questão ambiental, eu tenho aqui um certo problema com esta questão, porquê?
Porque eu entendo que a componente ambiental capturou, sequestrou estamos a falar de sequestro de carbono, não é?
O ambiente sequestrou a palavra sustentabilidade.
Ela tem três dimensões. A sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Nenhuma pode andar sozinha.
Porque se andar sozinha vai aparecer mais ou menos aquelas pessoas que estavam dentro da sala. Estão lá dentro da sala e sozinha vai mudar o mundo. Não, não muda. Porque faltam as outras duas componentes. A econômica e a social.
E, portanto, nós não podemos olhar para a sustentabilidade ambiental dissociada das outras duas sustentabilidades. O que procuramos fazer é, obviamente, E nesta altura acabou a auscultação pública para o masterplan do município e começou agora o plano municipal da ação climática.
Começamos agora a discussão pública, está em discussão pública, também nessa plataforma.
O cidadão vai lá e pode participar.
envolver-se no processo de discussão do Plano Municipal da Ação Climática. O que é que vamos fazer para mudar do ponto de vista energético, do ponto de vista da agricultura da cidade, da agricultura biológica, do ponto de vista da mobilidade, enfim, as dimensões são muitas, mas não podemos esquecer o que é que nós fazemos do ponto de vista social, como é que estamos a trabalhar a habitação, como é que nós estamos a trabalhar o emprego, Se as pessoas têm emprego, elas podem ter um ambiente fantástico sem emprego. Não é sustentável. As pessoas podem até ter emprego, mas o emprego não chega para libertar rendimento para alimentar as pessoas. Portanto, temos um problema social.
E nós temos de escolher. Portanto, o que procuramos na Smart City é, aqui sim, trabalhar dados. Nós estamos a desenvolver o Observatório Famalicão, que é um observatório que tem muitos dados sobre o território, que nos dá informação sobre como é que os pagamentos eletrónicos no concelho, no município de Famalicão estão a ocorrer, se estamos a fazer mais pagamentos eletrónicos ou menos pagamentos eletrónicos, se as pessoas estão a comprar mais ou estão a comprar menos, se as pessoas estão a ir mais ao hospital ou menos ao hospital, se vão mais ao hospital com problemas que não são do hospital, podem ficar em casa, podem tomar uma medicação diferente, várias outras questões, como é que estamos a fazer no ponto de vista da mobilidade, Se, por exemplo, no pós-Covid temos mais carros na rua. Eu creio que é genérico e foi uma ligação tão bem.
Nós tínhamos cerca de 129 mil toneladas de CO2 produzida pela mobilidade automóvel em 2020. Hoje temos 152 mil toneladas.
Monitorizámos isto e percebemos, e percebemos agora como é que temos de fazer políticas para diminuir o carro na cidade.
Estamos a construir as ciclovias, estamos a tentar fomentar o uso das bicicletas ou de outros meios suaves, mas não é fácil, mas a Smart City está a fornecer esta informação.
Nós hoje temos um projeto de captura do carbono com as escolas, as escolas têm a árvore e os alunos das escolas dizem, medem a árvore, qual é a copa, qual é o tronco, qual é a altura da árvore, para percebermos quanto é que estamos a captar de carbono naquela árvore em todas as outras áreas das escolas. E estamos a fazer isso também na cidade. Enfim, temos vários projetos, mas eu não gostaria de ir buscar só a sustentabilidade ambiental, aqui quero juntar sempre a económica e social, porque isto é um tripé.
Se nós tirarmos deste, quando temos três pés, se tirarmos um dos pés cai.
Portanto, nós temos de ter sempre os três pés, que é para um banco uma cadeira com três pés, se tirarmos um deles ela cai sempre. E, portanto, nós nunca podemos tirar um destes três pés.
[00:22:14] Gretel Schaj: Claro, é muito importante também essa perspectiva de sustentabilidade.
Mas é uma pergunta também, estamos a falar dos dados.
Como é que trabalhamos com os dados? Porque é uma prática... Não é nova a informação, mas agora temos mais. Mais frequente, com mais informação do contexto. Como é que trabalhamos com isso dentro da Câmara?
[00:22:42] Vítor Moreira: De facto, eu não sei se nós temos mais dados.
Porque as organizações e as Câmaras sempre tiveram muitos dados.
Nesses dados ficavam aí dentro de pastas de arquivo que estavam nos armários.
O que nós estamos hoje a fazer é utilizar meios informáticos e depois podemos ir lá buscar.
A pasta de arquivo hoje é um computador, um servidor, e pronto, nós vamos lá tentar buscar esses dados. E trabalhar esses dados para ter conhecimento.
E portanto, para termos informação.
E portanto, nós procuramos, na medida do possível, captar, trazer esses dados.
naquilo que podemos dar aos departamentos. Que é dizer, vocês têm estes dados, então digam-me que dados é que têm e nós vamos dar-vos informação sobre aquilo que vocês têm.
Porque hoje eles têm um conjunto de dados e sabem que vão lá, vão ao departamento, 500 pessoas por ano.
Vão lá fazer o quê?
Em que meses é que vão?
Quem são estas pessoas?
Isto é informação que até agora não era fácil de recolher.
Hoje, com os sistemas de informação que temos, já é mais fácil de recolher.
Portanto, nós hoje já conseguimos dar esta informação e trabalhar estes dados. Nós estamos a trabalhar os dados em duas dimensões.
Os dados do território, que nós trazemos de plataformas nacionais, que têm esses dados, o Instituto Nacional de Estatística, dados da saúde, dados da Constituição de Empresas, enfim, vários dados, e que caracterizam o território. E depois estamos a trabalhar dados internos da Câmara Municipal, como sempre trabalhamos, tradicionalmente os dados financeiros, se está um orçamental, enfim, as contas da Câmara, mas agora estamos a trabalhar mais dados financeiros, mais dados para além dos financeiros, e que nos dá uma perspectiva sobre o que é que a Câmara está a fazer.
Tradicionalmente.
Por exemplo, nós hoje sabemos qual é o público-alvo das ações que nós fazemos quando fazemos um evento.
Quantos eventos é que nós fazemos para o público em geral?
E quantos eventos é que nós fazemos para os cegos?
Eventualmente é daquelas coisas que as organizações não têm estes dados. Quando nós começamos a fazer estas perguntas, as coisas começam a ser diferentes.
Alguém dizia que no século XXI a inteligência não está, a suprema inteligência não está em saber responder, está em saber fazer as perguntas certas.
E é isso que procuramos fazer, é saber fazer as perguntas certas para depois obtermos a partir daí respostas, mas o mais importante é fazer a pergunta certa.
[00:25:18] Gretel Schaj: Então, o que está primeiro, a pergunta ou o dado?
[00:25:26] Vítor Moreira: Na verdade eu acho que até o momento da pergunta elas andam em paralelo. E só em determinada altura o dado já cá está.
Eu acho que o dado já está.
Nós, com base em algo que nós podemos olhar para um dado, podemos começar a fazer as perguntas, as perguntas certas.
Mas ele já existe o dado.
Às vezes está quietinho num sítio, está numa pasta, está num computador e ninguém lhe olha para ele.
Quando começamos a fazer a pergunta certa, É aí que vem a inteligência do processo. É assim, alto, espera aí. Para responder a isso eu tenho aquele dado que está ali parado, numa pasta, está ali qualquer coisa que eu tenho. Então vou buscar.
E a pergunta certa vai me levar a uma resposta, que provavelmente vai trazer a outra pergunta para levar a outra resposta.
E no final nós teremos construído um dashboard que dá à pessoa informação sobre a sua atividade. O que é que eu estou a fazer?
que valor estou a entregar? Qual é a minha cadeia de valor para eu entregar este valor no final?
E essa é, digamos, um ponto de vista muito do trabalho que nós, para a cidade, procuramos fazer na Smart City Family Camp.
[00:26:41] Gretel Schaj: É muito interessante e é parecido também, tem muito trabalho já feito.
É um processo, não começaram ontem. E isso é um resultado, é possível ver nesta conversa.
No outro tema, quais são, na sua opinião, os principais estrangulamentos na sua cidade quando se trata de avançar com projetos inovadores?
E o que é necessário para acelerar a mudança? Porque hoje é uma questão de quando é que podemos fazer estas mudanças, especialmente na área de mudanças climáticas.
[00:27:24] Vítor Moreira: Vamos voltar aos emojis? A primeira emoji era as pessoas.
É aqui que está.
As pessoas são o melhor, eu não vou dizer o pior, mas as pessoas é que tornam fácil ou difícil o processo.
É a mudança cultural que nós temos enraizada na sociedade.
Esta mudança cultural é aquela que é mais relevante para o processo de uma construção, de uma transformação.
Porque, e eu vou utilizar aqui a palavra transformação e não transição digital.
Transitar para o digital, digamos, eu costumo dizer a brincar, não é aquilo que dizia há pouco, não é passar o erro para um PDF.
Transformar é que é verdadeiramente importante.
Como é que nós vamos transformar o processo colocando sobre ele eficiência?
E a mudança cultural é aquela que para mim é mais complicada do ponto de vista desta adoção das novas tecnologias e sem ser as novas tecnologias, as novas práticas.
Em muitas circunstâncias a tecnologia pode nem sequer estar presente mas dar uma prática nova, que efetivamente é a otimização de um processo.
E como é que nós conseguimos fazer esta mudança?
Eu diria que a questão cultural é uma questão muito importante. Depois é a demonstração dos ganhos.
Sempre a demonstração dos ganhos.
A demonstração daquilo que as pessoas... Vamos lá ver.
O processo de mudança é sempre doloroso. É.
Sempre.
Num primeiro momento, a mudança, a curva da mudança, enfim, é conhecida.
Num primeiro momento, toda a gente perde.
Toda a gente. Não há ninguém que não perca qualquer coisa.
Quanto menos seja o conforto com o que estava.
Eu já fazia sempre assim, fazia aquilo de olhos fechados.
Então se agora me vão mudar, eu tenho aqui um desconforto.
Isto eu perco. Isto é a minha perda. A partir de um momento, de um determinado momento, eu vou começar a ter ganhos.
E a demonstração disso é que é a nossa competência. Nós temos que demonstrar que apesar que esse processo de mudança, essa perda, vai ser muito diminuta, vai ser encurtada no tempo e que rapidamente a pessoa está a ganhar.
E é essa a nossa obrigação nesta construção da inovação que queremos para as cidades.
[00:29:48] Gretel Schaj: Quando falas da nossa obrigação, quem é que tem que liderar esta mudança?
[00:29:57] Vítor Moreira: Esta mudança tem sempre, do ponto de vista do município, é sempre liderada pelo Presidente da Câmara e pela visão do Presidente da Câmara. Sempre.
Sem a visão de topo, sem o comprometimento do topo, não é possível fazer nada.
E eu sempre tive sorte de trabalhar com Presidentes de Câmara que tinham este comprometimento.
Esta questão de perceber que a mudança não é imediata, vai demorar tempo, mas que é preciso estar sempre a preparar o futuro.
E o futuro, a médio prazo, também me foi dado a possibilidade de o preparar a médio prazo e não imediatamente para o amanhã.
E isto foi uma sorte que eu tive.
E, portanto, desse processo resulta que conseguimos ir construindo algo que traz todos para o processo e que é preciso ter essa visão de topo, essa liderança de topo a dizer é para ir e depois construir equipas que se revejam no processo. Pessoas que olhem para o processo e que digam o que é que está também é meu. Que as pessoas se sintam envolvidas no processo.
Isto é o essencial, que nós consigamos partilhar com as equipas a nossa visão, aquilo que gostaríamos de ver andar, e que essa equipa tenha possibilidade de acrescentar ao processo, de se rever, de poder chegar a casa e dizer, eu também fiz aquilo.
[00:31:30] Gretel Schaj: E o orgulho da participação da mudança e também um apoio político também de marcar do futuro e a visão também que o município e a cidade tem.
[00:31:43] Vítor Moreira: Sim, sim, claro. Até porque a população, o município em muitas circunstâncias também é farol.
Há muitas empresas muito boas que vão à frente em muitas coisas, dentro da sua área.
E o município, digamos que toca a todos. Todos têm uma interligação com o município, seja lá qual for. Nem que seja por utilizar uma estrada que é cuidada pelo município.
Nem que seja por sua criança na escola que é gerida pelo município. Portanto, toca a todos. Portanto, as pessoas reverem-se nesta construção da cidade também é muito importante.
[00:32:17] Gretel Schaj: Agora, gostaria de vos dar a palavra, se a quiserem usar, para falar-me de qualquer outra coisa que nós possamos ter esquecido de mencionar, que não perguntei ou que gostariam que os nossos ouvintes soubessem.
[00:32:33] Vítor Moreira: Eu diria que, para caracterizar a Famalicão, diria que neste momento nós somos uma cidade, a cidade europeia empreendedora, a cidade empreendedora europeia, em 2024, então está a acabar o ano, e isto significa também todo o processo que nós vamos fazer. Falei da indústria no início, nós somos um município eminentemente industrial, temos hoje múltiplas valências, dizia há pouco que éramos um território verde multifuncional, mas também somos multifuncionais do ponto de vista econômico.
Temos várias indústrias e somos um território muito heterogéneo.
E, portanto, isso é que faz com que nós, em Famalicão, tenhamos um grande ADN empresarial. Temos muitas pessoas a fazer empresas, a fazer acontecer.
E isso é algo que é muito bom para o município.
Um presidente da Câmara e uma Câmara Municipal que tenha que construir cidade, quando tem cidadãos deste género que fazem, que empreendem, que puxam pela cidade, que são exigentes, eu diria que é uma sorte. E é desafiador, mas é uma sorte. Podemos estar num território que é permanentemente desafiador.
E esta questão é uma questão que para mim é muito importante do ponto de vista do que é Famalicão. E esse desafio põe-se também nesta construção das smart cities. Como é que nós vamos trazer as pessoas à construção da sua cidade?
[00:34:09] Gretel Schaj: Muito interessante. Muito obrigado por todas estas respostas que são muito interessantes.
Agora vamos passar ao nosso segmento do podcast divertido.
E o segmento que escolhemos para hoje chama-se Shoutout.
Vou pedir-vos que mencionem uma pessoa, uma organização ou uma cidade que considerem merecer mais reconhecimento no domínio da inovação urbana ou do desenvolvimento urbano sustentável, para dar a conhecer ao nosso público o excelente trabalho que está a fazer.
[00:34:56] Vítor Moreira: Tem algum momento. A circunstância deste momento que estamos a passar é que em Portugal está a acontecer uma, eu diria, a evangelização das smart cities está a acontecer muito rapidamente e neste momento está a acontecer a implementação da Estratégia Nacional de Territórios Inteligentes que está a trazer muitas pessoas que estavam fora desta dinâmica dos territórios inteligentes, das cidades inteligentes.
Pessoas a quem este tema não dizia quase nada.
E, portanto, se eu tenho que mencionar aqui alguém, são essas pessoas que nos territórios em Portugal estão a entrar pela primeira vez nesta questão das smart cities.
E, portanto, eu acho que a estes heróis que vão entrar para a primeira vez, que vão tentar perceber se vai ser mais rápido ou menos rápido, se vão ter que responder ao Presidente de Câmara com algo mais imediato ou pão de conseguir fazer, esses vão ser os heróis dos próximos tempos e, portanto, gostaria de mencionar a essas pessoas que hoje são anónimas, daqui a algum tempo podem estar nesse local a falar sobre as smart cities que podem estar a construir.
[00:36:07] Gretel Schaj: Obrigada. Vítor, passamos agora a uma última pergunta.
E esta é a pergunta que fazemos a todos os convidados do nosso podcast.
Para si, o que é uma cidade inteligente?
[00:36:24] Vítor Moreira: Para mim, uma cidade inteligente é uma cidade em que as pessoas são o objeto principal.
Tem que ser a cidade que nós construímos para as pessoas. Tudo o resto são ferramentas que vamos utilizar para otimizar o processo, mas o foco tem que estar sempre nas pessoas, utilizando os mais diversos conceitos.
Eu posso estar a construir uma cidade onde estou a colocar câmaras de videovigilância, câmaras de analítica, como posso estar a construir, através do conceito de placemaking, um espaço, transformar um espaço num lugar, em que as pessoas desfrutam do espaço.
Portanto, uma cidade inteligente, para mim, é aquela que consegue trazer as pessoas, envolvendo-as na construção da cidade. Essa é a cidade inteligente. Quais são as ferramentas que utiliza? Tecnológicas ou outra? Isso é mais irrelevante.
O que é importante é as pessoas envolverem. Uma cidade é inteligente se conseguir envolver as pessoas na construção da sua própria cidade.
[00:37:30] Gretel Schaj: A cidade para as pessoas.
[00:37:32] Vítor Moreira: Exatamente. A cidade é para as pessoas, mas a cidade é para as pessoas construída por elas.
Porque eu queria deixar aqui uma diferença entre a participação e o envolvimento.
o engagement, não é?
Porque eu posso ter uma pessoa que participa de quatro em quatro anos porque vai votar no Presidente da Câmara, no Mayor, e aquela pessoa que se envolveu no processo, que diz eu quero ajudar a definir como é que se vai construir esta rua, como é que se vai construir este parque. Isso é envolver. E, portanto, eu vejo a cidade inteligente como... A cidade é tanto mais inteligente quanto mais conseguir envolver os cidadãos na construção da sua própria cidade.
[00:38:13] Gretel Schaj: É um desafio.
[00:38:14] Vítor Moreira: É um enorme desafio.
Enorme desafio.
[00:38:18] Gretel Schaj: Victor, muito obrigada. Muito obrigada pelo seu tempo, por partilhar as suas ideias conosco. Foi um prazer falar consigo hoje na Smart City Expo.
[00:38:28] Vítor Moreira: Muito obrigado. Eu é que agradeço naturalmente à BABLE esta oportunidade de podermos partilhar o que é Famalicão e a construção desta cidade inteligente em Famalicão. Muito obrigado.
[00:38:39] Gretel Schaj: E para todos os nossos eventos, não se esqueçam de poderem criar uma conta gratuita em BABLE Smart Cities para saber mais sobre os projetos, soluções e implementações do Smart City. Muito obrigada.
[00:38:53] Tamlyn Shimizu: Obrigada a todos por assistir. Vejo vocês na próxima parada na jornada para uma vida mais urbana.